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Resenha: Marina

20:32 Isabela Libório 0

Sem nenhum motivo aparente, acabei fazendo daquela amizade um segredo. Não tinha dito nada a respeito deles a ninguém, nem mesmo a meu amigo JF. Em algumas semanas apenas, Germán e Marina tinham se transformado em minha vida secreta e, a bem da verdade, na única vida que eu desejava viver.”

  Comprei esse livro graça ao pedido desesperado da minha amiga Francisca - ♥ - que me dizia todos os dias que era maravilhoso e valia muito a pena. Ela estava completamente certa e não me arrependo de ter adquirido essa obra tão bem escrita e pensada. Encontrei em um sebo enquanto passeava pela Bienal aqui da Bahia no ano passado e não pensei duas vezes antes de comprar, principalmente pelo bom estado em que o livro se encontra.

  Estamos acompanhando o fim da década de 1970, Óscar Drai tem 15 anos e vive em um internato na cidade de Barcelona. Impulsionado pelo tédio e solidão que rondava o local, o garoto se via andando pelas ruas inspiradoras de onde morava, explorando tudo por ali quando encontrava oportunidade.

Aquele era meu momento favorito. Driblando o controle da portaria, partia para explorar a cidade. Costumava voltar para o internato, ainda a tempo de jantar, caminhando entre velhas ruas e avenidas enquanto anoitecia ao meu redor. Naqueles longos passeios, experimentava uma sensação de liberdade embriagante. Minha imaginação voava por cima dos edifícios e se erguia até o céu. Por algumas horas, as ruas de Barcelona, o internato e o meu triste dormitório no quarto andar sumiam. Por algumas horas, só com um par de moedas no bolso, eu era o sujeito mais sortudo do universo.”


  Em uma dessas suas fugas da realidade, o garoto acaba decidindo se aventurar por um local que nunca havia percebido antes. Ele pensa duas vezes ao se tocar que tudo ali parece abandonado, jogado ao vento, mas é chamado a atenção por um felino de olhos amarelos brilhantes e chega à conclusão de que o mesmo parecia ter um dono. Movido pela curiosidade e ignorando a aparência sombria, Óscar resolve encarar ao perceber que o portão abrira com o seu toque.

  Admirado com a voz angelical que ouvira, atreve-se a procurar de onde vinha, mas é surpreendido por um vulto e acaba fugindo da mansão com fama de ladrão ao roubar, por engano, um objeto valioso. Algum tempo após o fato, considera-se culpado e o sentimento o faz sentir-se obrigado a voltar ao local e devolver o que lhe foi retirado.

  Como uma artimanha do destino, nosso personagem principal e narrador da história – Óscar – acaba indo ao encontro de Marina, uma garota que descreve como “uma visão que parecia roubada de um sonho”. Ao reparar nas coincidências que o levaram ali, ele é apresentado ao pai da menina: Germán, um homem gentil e incrivelmente alto.


  Após perguntar se Óscar gosta de um mistério, Marina o convida para uma aventura no dia seguinte. A partir daí, os dois se veem envolvidos em mistérios a respeito da dama de preto que avistam ao passear por um cemitério, acontecimentos macabros e um álbum de fotografias absurdamente estranho.



 Eu fiquei completamente encantada com a escrita, criatividade e originalidade do Zafón. As coisas acontecem no momento certo, e, quando você acha que a história é somente aquilo que está ali, algo novo e sensacional é acrescentado. A minha resenha contou o mínimo do mínimo sobre a história e, sinceramente, não perca a oportunidade de decifrar todos os segredos por trás das tantas personagens que ainda lhe serão apresentadas.

  O livro tem um toque macabro e, ao longo, das páginas isso fica mais forte e constante. Assassinatos, relacionamentos frustrados, inveja, criaturas distorcidas e negócios: é tudo tão bem descrito que é difícil não imaginar cada detalhe e se assombrar com cada um deles. A relação entre Óscar, Marina e seu pai é bonita, sincera e cativante.

  O fim é imprevisível, de quebrar o coração, mas, de certo modo, necessário. Digamos que o livro tenha um quê de autobiografia, como disse na resenha de O Oceano no Fim do Caminho. No início, por exemplo, Óscar já é bem mais velho e relembra todos esses momentos que passara quando criança, fazendo com que a história comece aí. Devo ressaltar que agora eu tô com uma vontade imensa de visitar Barcelona, a cidade tão aclamada na obra e de Arquitetura exemplar. Óscar sonha em ser um arquiteto, aliás! O que me fez gostar ainda mais dele.
  
As páginas são amareladas, felizmente. <3

  Eu recomendo forte e completamente a leitura de Marina. O próprio Carlos Ruiz Zafón diz ser, provavelmente, seu livro favorito de todos que já escreveu. Preciso dizer mais alguma coisa?

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