livros,

Resenha: Capitães da Areia

21:28 Isabela Libório 0


“(...) E foi desta época que a cidade começou a ouvir falar nos Capitães da Areia, crianças abandonadas que viviam do furto. Nunca ninguém soube o número exato de meninos que assim viviam. Eram bem uns cem e destes mais de quarenta dormiam nas ruínas do velho trapiche.
Vestidos de farrapos, sujos, semiesfomeados, agressivos, soltando palavrões e fumando pontas de cigarro, eram, em verdade, os donos da cidade, os que a conheciam totalmente, os que totalmente a amavam, os seus poetas.”

 Graças ao meu colégio, fico feliz em dizer que tenho 4 livros do Jorge Amado na minha estante, haha. Digo isso porque todos eles foram pedidos durante meus anos escolares e, na época, eu não dava muita bola pro autor porque, vamos ser sinceros, tudo que é obrigatório acaba não sendo tão proveitoso. 

 Mesmo assim, lembro que Capitães da Areia foi um livro que me marcou bastante, até tive que criar um curta sobre a história na época e foi bem divertido. Relendo, agora mais velha, aproveitei e gostei MUITO mais. A história me encantou e emocionou, assim como os personagens. Agora sei que vou imaginar todos eles pelas ruas de Salvador – minha cidade e cenário do livro – o tempo todo.
Vocês não imaginam meu sufoco e o de Tom pra tirar essas fotos. Quando o mar chegava perto, era um desespero pra tirar o livro, haha. Ele acabou molhando e ficando cheio de areia ): Mas tá tudo sob controle, doeu o coração, mas valeu a pena e agora meu livro é mais baiano e realmente "da Areia".

 Pedro Bala é o líder de um grupo de garotos pobres, moradores de um trapiche abandonado em Salvador e dependentes de uma vida de furtos para sobreviver: os Capitães da Areia. A cicatriz que atravessa seu rosto só potencializa seu ar de menino valente e destemido, decidido a proteger seus companheiros com unhas e dentes. 

 Os mais próximos a ele são Professor, Pirulito, Volta Seca, Gato, Sem-Pernas e João Grande, todos carentes do carinho de uma família. Eles são constantemente procurados e todos aqueles que os temem pensam que a melhor saída seria levá-los para um reformatório, lugar para o qual se recusam a ir.

 Enquanto isso, após perderem os pais para a varíola, Dora e seu irmão, Zé Fuinha, acabam sendo amparados por alguns dos Capitães da Areia e tornam-se parte do grupo. É aí que o coração aperta ainda mais, porque é lindo o modo como os meninos consideram Dora uma mãe, fonte de algum tipo de amor ou conforto que nunca tiveram.

 É nessas tentativas de furto, planos e descobertas que acompanhamos a vida desses meninos de rua. E o mais interessante: podemos ver tudo através dos seus olhos, numa perspectiva diferente, sentindo na pele o que é ter que lutar pela sobrevivência. É incrível o fato de que podemos perceber o amor que eles sentem uns pelos outros, pela cidade e a inocência que ainda existe em cada um, apesar do modo como levam a vida.

“- Quer ver uma coisa bonita?
Todos queriam. O sertanejo trepou no carrossel, deu corda na pianola e começou a música de uma valsa antiga. (...) Neste momento de música, eles sentiram-se donos da cidade. E amaram-se uns aos outros, se sentiram irmãos porque eram todos eles sem carinho e sem conforto e agora tinham o carinho e o conforto da música. Volta Seca não pensava com certeza em Lampião neste momento. Pedro Bala não pensava em ser um dia o chefe de todos os malandros da cidade. O Sem-Pernas em se jogar no mar, onde os sonhos são todos belos. Porque a música saia do bojo do velho carrossel só para eles e para o operário que parara. E era uma valsa velha e triste, já esquecida por todos os homens da cidade.”

 Esse é, definitivamente, um livro que vai te fazer pensar. É difícil não se apegar aos personagens e não se sentir extremamente triste com a situação e história de vida dos mesmos, principalmente de Sem-Pernas. Aliás, um dos pontos mais fortes do livro é o realismo dos personagens, o modo como Jorge Amado construiu todos eles muito bem impressiona e até fez com que eu me perguntasse se eles não existem de verdade.

 Não é um livro super dinâmico e cheio de mistérios, ele gira em torno da vida dos meninos e seus planos para sobreviver, mas conseguiu me prender do mesmo jeito, eu ficava realmente ansiosa pra sentar e continuar a leitura. Como eu disse, é interessante – e chega a ser desconfortável em alguns momentos – perceber cada situação através dos olhos dos Capitães da Areia, deixa tudo mais chocante e diferente.

 O desfecho de tudo é lindo e, ao mesmo tempo que parte seu coração, consegue juntar alguns pedaços. O livro é cheinho de frases marcantes, o que explica a quantidade de marcações com post-it feita por mim, haha.

 Resolvi que seria breve nessa resenha, para evitar spoilers e tornar a leitura de vocês mais envolvente. Recomendo que toda e qualquer pessoa leia Capitães da Areia, é importante refletir sobre muitos assuntos tratados na obra, além de que é algo belíssimo de se ler.



Achei essas fotos muito Capitães da Areia e resolvi postar, hehe. Obrigada ao meu irmão e meu namorado por servirem de modelos nas fotos. :3

Aliás, não sei se vocês sabem, mas esse livro foi adaptado pro cinema! Não assisti ao filme todo ainda, mas pretendo e achei incrível até onde parei. Pra quem quiser, o trailer:



“- Ele disse que eu era um tolo e não sabia o que era brincar. Eu respondi que tinha uma bicicleta e muito brinquedo. Ele riu e disse que tinha a rua e o cais. Fiquei gostando dele, parece um desses meninos de cinema que fogem de casa para passar aventuras.”

0 comentários:

Comente para que eu possa saber se gostou ou o que devo melhorar! Dê sua opinião sobre o assunto falado também, se quiser. Sinta-se à vontade. ^-^